Por Davi Caldas
Secularistas e cristãos liberais ficaram irritados nessa semana com a notícia de que uma escola adventista em Belém aplicou uma prova com conteúdo supostamente homofóbico. A prova continha as seguintes questões: “A pessoa nasce ou se torna homossexual?”, “A Bíblia condena a relação homossexual?”, “O homossexualismo tem perdão?” e “Como evitar o homossexualismo?”.
As acusações de homofobia são curiosas. Vejamos. A primeira pergunta – “A pessoa nasce ou se torna homossexual?” – não revela qualquer juízo de valor sobre homossexuais ou a homossexualidade. Discutir sobre se a inclinação homossexual é inata ou socialmente aprendida não deveria ser um problema. É apenas um conhecimento.
A segunda pergunta – “A Bíblia condena a relação homossexual?” – também não revela nenhum juízo de valor. Ela deseja saber a posição bíblica a respeito. Ora, a Bíblia concebe a prática homossexual como pecado. Reconhecer que a Bíblia diz isso é apenas uma questão de leitura. Ela diz e acabou. Se a pessoa que lê concorda ou não, são outros quinhentos. Mas não podemos dizer que a Bíblia não coloca como pecado. Da mesma maneira, se uma prova perguntar se o “Manifesto do Partido Comunista” condena a burguesia, a resposta será “sim”. Você pode não concordar com Marx, mas é isso o que ele diz no livro. Nem essa pergunta pode ser considerada marxista, nem a primeira pode ser considerada homofóbica.
A terceira pergunta – “O homossexualismo tem perdão?” – se refere, mais uma vez, à concepção bíblica. Ou seja, o leitor não precisa concordar com a Bíblia. Ele apenas precisa responder se, na Bíblia, a prática tem perdão ou não. Mais uma vez, não existe aqui uma pergunta “homofóbica”, mas apenas uma pergunta sobre o que a Bíblia diz.
A quarta pergunta – “Como evitar o homossexualismo?” – também não pode ser considerada homofóbica, tendo em vista que assim como todos devem ter o direito civil se tornar homossexuais, todos também devem ter o direito de deixar de ser. Se um homossexual quer seguir a Bíblia e acredita ser a prática homossexual um pecado, é útil ele saber formas de evitar a prática.
As questões, portanto, não são homofóbicas. Seria mais coerente, talvez, dizer que a própria Bíblia é homofóbica. Mas aqui entramos em um grande problema. A Constituição Federal garante a liberdade religiosa e a liberdade de expressão. Podemos crer e pregar o que quisermos desde que isso não fira a liberdade, a integridade física e a honra de outros indivíduos. Não me parece que dizer que algo é pecado fere a honra de alguém. Por exemplo, a Bíblia diz que a gula é pecado. Será que, por isso, as pessoas gulosas deveriam se sentir ofendidas em sua honra? Será que isso dá aos gulosos o direito processarem pastores que pregam contra a gula? Será que a Bíblia deveria ser banida porque entende a gula como pecado?
Assim como a gula, há muitas coisas que podem ser entendidas como pecado, estejam na Bíblia ou não. Há quem chame de pecado ir à praia. Outros creem ser pecado ir ao cinema. Tem quem defina tatuagem como pecado. Ora, se tudo isso for entendido como uma afronta à honra de alguém, então todos os livros religiosos e todas as religiões deverão ser banidas. A própria definição de pecado deverá ser extinta. E esse é o x da questão? Onde fica a liberdade religiosa e de expressão?
Parece-me claro, portanto, que não podemos chamar a Bíblia de homofóbica por considerar a prática homossexual (ou qualquer outra prática) como pecado.
O “crime de homofobia” foi criado para desestimular/punir agressões físicas e verbais aos homossexuais motivadas unicamente pela orientação sexual dos mesmos. Se o colégio adventista estivesse estimulando agressões físicas e verbais aos homossexuais, ou de tratamento discriminatório no cotidiano, poderia se enquadrar como promotor de homofobia. Mas não é o caso. A escola adventista, seguindo a filosofia cristã, ensina que devemos amar ao próximo como a nós mesmos, independente da vida que ele leva. Em suma, ninguém vai sair xingando, tacando pedra e discriminando homossexuais por aí por incentivo da escola adventista.
Devemos lembrar ainda que a escola adventista é uma instituição privada e confessional. Tem, portanto, todo o direito de ensinar aos alunos uma cosmovisão religiosa. Todos os pais, quando matriculam seus filhos lá, estão cientes de que eles receberão essa educação. Se o mesmo ocorresse em um colégio público, sem dúvida seria um erro. O Estado é laico e o que é público não deve favorecer uma religião específica. Mas em um colégio privado, vale o que está no contrato. Matrícula o filho lá quem quer.
O episódio apenas reforça que, com a desculpa de proteger pessoas que realmente precisam de proteção, grupos secularistas (sobretudo de esquerda) sempre procuram cercear a liberdade religiosa e a liberdade de expressão. Estamos acostumados com isso.
novembro 21, 2019 at 11:07 am
Parabéns pela matéria. Disse tudo que eu quereria dizer se meu tempo e minha cognição alcançassem.
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novembro 21, 2019 at 5:27 pm
Comentário tão longo quanto raso, desprovido de avaliação sócio-cultural, claramente tendenciosa e muito mal argumentada.
Vamos estudar um pouco mais e entender as coisas de forma mais holística? Ou vamos seguir matando Cristo porque ele se opôs e opõe aos fariseus de todos os tempos!
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novembro 21, 2019 at 5:39 pm
Quem criou essa polêmica tá querendo forçar a barra, é necessário um pouquinho mais de estudo para não sair falando bobagens e não fazer acusações sem nexo 🤦🤦🙄🙄🙄🙄
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novembro 21, 2019 at 7:12 pm
Boa tarde! Infelizmente o assunto tornou-se moda e, pior, histeria. Exatamente pelo momento já tão agitado, foi inoportuno para a escola abordar a questão na forma como fez (por escrito). Um debate não seria melhor? E, provavelmente, repercutiria muito menos. Entendo que às vezes não chamar a atenção é melhor do que o oposto. Em linha paralela, vamos pensar um pouco mais antes de qualquer decisão de caráter público.
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novembro 21, 2019 at 9:10 pm
Excelente!
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novembro 21, 2019 at 10:35 pm
Concordo plenamente.
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agosto 30, 2020 at 2:42 pm
Penso que a escola ao trazer estas questões, as trouxe envolvida em sua filosofia cristã. No entanto, mesmo não sendo uma escola pública e laica precisa tomar cuidado na maneira que irá tratar determinados assuntos, isto para qualquer assunto sobre diversos temas polêmicos. Poderiam ter discutido ou levado o assunto para uma roda de conversas, e reforçar o que apenas no artigo em defesa aparece, que devemos amar ao próximo e respeitá-lo. Pois, sabendo que a Bíblia condena a condição homossexual, através de tais perguntas, como você acredita que algum jovem que se percebe homossexual se sentiria ao ler tais questionamentos? E os demais a sua volta? Como agiriam? Foi um ato falho por parte da Coordenação Pedagógica ter deixado passar algo assim, desta forma. Dito isso, penso que comparar a homossexualidade com o pecado da gula é algo completamente errôneo, uma vez que gula é algo que você aprende, por convívio familiar ou por questões psicológicas (ansiedade)… Homossexualidade você é ou não é… questão de Gênero… Ninguém escolhe ser homossexual, ou você nasce homossexual ou não. Lógico que a decisão que um homossexual pode vir a fazer é negar a sua condição e se esconder, vivendo uma vida diferente da que ele mesmo percebe. Digo isso, pois sou homossexual, mas vivi desde a infância a mentir para minha família e fazer o que eles em suas crenças acreditavam ser corretas, o caso da sociedade heterohegemônica baseada em princípios bíblicos. Aos 26 anos consegui aceitar minha condição e assumir a minha vida, depois de inúmeros preconceitos vividos desde criança e adolescência. Saibam que homossexualidade não se ensina, mas preconceito e discriminação sim. Hoje posso dizer que sou feliz, pois sou um só! Não preciso ser eu escondido, e saber que sou amado e respeitado por ser um ser humano, uma pessoa, independente de sua condição de Gênero me faz compreender o perigo por de trás de pensamentos religiosos e filosóficos. Toda escola, pública ou privada, deve ter o cuidado ao trazer como centro de propostas, assuntos que possam causar dano ou constrangimento. O amor e o respeito na relação com o outro deve estar diretamente ligado à tais propostas, ou se tornarão apenas temas repetitivos e tendenciosos. Temos de ter responsabilidade e saber que embora a Constituição Federal nos dê o direito à livre expressão, a própria traz outros artigos que orientam e esclarecem até que ponto podemos fazer uso da mesma.
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