Por Davi Caldas

Já há alguns anos que muito me incomoda e preocupa o baixíssimo nível moral das discussões entre muitos cristãos nas redes sociais por causa de política ou até mesmo de interpretação bíblica. Para ser mais exato, não são nem discussões, mas brigas mesmo. E não há nada nessas brigas que sequer se aproxime do que deveria ser o espírito cristão. Estou convencido de que essa é a grande estratégia de Satanás nos últimos anos: fazer cristãos acreditarem que vale qualquer postura para defender suas opiniões. Inclusive as posturas condenadas pela Bíblia. O Diabo tem conseguido popularizar um cristianismo “free style”. E o número de conversos para esse cristianismo só aumenta.

Pensando nisso, preparei aqui algumas dicas básicas para cristãos que gostam de debater política ou interpretação bíblica com outros cristãos. A ideia é que essas dicas façam aqueles que gostam de debater refletirem um pouco sobre como devem fazer isso. Aí vão elas.

1) Evite ao máximo julgar seu irmão como burro ou desonesto. Ainda que ele esteja errado e que você entenda isso como óbvio, deve lembrar que o processo de assimilação varia de pessoa para pessoa. Isso acontece porque somos diferentes em nossa genética, criação, experiências, influências, etc. Por essa razão, muitas vezes demoramos mais para perceber algo que outras pessoas percebem e assimilam mais rápido. Isso não é, necessariamente, burrice ou desonestidade. Muitas vezes é só um processo de assimilação diferente do seu.

2) Considere sempre a possibilidade de nenhum lado estar totalmente certo ou totalmente errado. Embora haja discussões em que não há meio termo, há também aquelas em que é possível haver muitas outras visões além das duas que estão em jogo.

3) Não xingue nem use palavras de baixo calão com seu oponente. Também evite ser agressivo ou apelar para ironias e sarcasmos. Essas posturas não ajudam o debate. Apenas criam uma atmosfera de raiva, aumenta a troca de ofensas e levam os dois a justificarem suas próprias posturas pecaminosas.

4) Se o debate for sobre interpretação bíblica ou qualquer aspecto da fé cristã, não maximize as diferenças de opinião. O irmão que discorda de nós não necessariamente é um falso cristão ou herege. Muitas questões teológicas são periféricas. Elas tem sua importância, claro, mas não determinam a autenticidade da fé de alguém. É possível dois crentes discordarem em pontos periféricos, mas concordarem nos pontos centrais da fé cristã, amarem a Deus, amarem ao próximo e viverem uma vida virtuosa.

5) Se o debate for político, não caia no erro de depositar fé em algum político como sendo aquele que vai mudar o sistema ou salvar a sociedade de uma catástrofe. Em especial, se for presidente. Esse tipo de crença é ingênua. Políticos geralmente não possuem interesse em mudar o sistema. Os poucos que possuem boa intenção, não têm competência para isso. E os que têm boa intenção e competência, não podem fazê-lo sem o apoio dos demais. No caso do presidente, isso é ainda mais verdadeiro. Brasileiros tem a cultura de colocar muita expectativa na figura do presidente, mas a verdade é que sem apoio do congresso e com uma suprema corte não confiável, não é possível fazer muita coisa boa. A tendência, portanto, é que os presidentes cedam às pressões e aos interesses dos poderes legislativo e judiciário. Ou seja, crer que um político será uma espécie de salvador (sobretudo um presidente) é apostar no improvável.

Outro problema que esse tipo de postura gera é o de ver todos os que discordam de nós como inimigos. Afinal, se assumimos que apenas o nosso político preferido pode nos salvar de uma catástrofe iminente, automaticamente todos os que discordam tornam-se os responsáveis pela futura catástrofe, caso nosso político não ganhe. Assim, cria-se um cenário onde o crente eleva um homem a salvador incriticável (senão, a catástrofe vem) e rebaixa os seus irmãos discordantes a párias e inimigos que precisam ser combatidos. Perde-se de vista, neste momento, a noção de luta espiritual. As preocupações principais deixam de ser orar, estudar a Bíblia e pregar o evangelho. Passam a ser brigar a respeito de política, defender o político preferido e atacar quem pensa diferente.

6) Não leve as discussões políticas tão a sério. Enquanto você ofende seu irmão por causa de política, há gente séria dando a vida para pregar o evangelho. Quem ofende irmãos por causa de política está desonrando o evangelho. E veja: não me excluo disso. Embora eu procure ao máximo evitar esse erro, já o cometi algumas vezes no passado. A gente amadurece, mas a vigilância precisa ser eterna.

7) Independente se você é de direita ou de esquerda, entenda que não faz sentido crer que os problemas causados pelo poder dos políticos e ministros serão resolvidos dando mais poder aos políticos e ministros. É um contrassenso. A única forma de reduzir esses problemas é descartar os políticos que só fazem manter ou aumentar o poder do Estado, votar em quem parece realmente querer reduzir esse poder e pressionar os políticos a fazerem o que prometeram. Nada disso é fácil. E é pouco provável que essas ações mudem em grande escala o nosso país. Mas essa é a postura mais sensata. Dizia Montesquieu que o homem com poder vai até onde encontrar limites. E Lord Acton afirmava que o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. Que pensemos nisso sempre que tivermos alguma ideia sobre como políticos poderiam melhorar as coisas. Se isso envolver mais poder ou a manutenção do poder que já existe, não é uma boa ideia.

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