Por Davi Caldas
Uma vez que a Igreja é formada por pessoas e as pessoas pecam, a autocrítica da Igreja é algo fundamental. E ao contrário do que muitos podem pensar, é a própria Bíblia que ensina a fazer essa autocrítica. Há séculos o profeta Ezequiel já servia de porta-voz divino para criticar pastores corruptos (Ez 34:1-11), Isaías para criticar a insensibilidade em relação ao próximo (Is 58:1-10), Tiago para incentivar uma religião mais ativa em prol dos necessitados (Tg 1:26-27), etc. A Bíblia é, por excelência, um livro bastante crítico, que coloca o homem em seu lugar a todo o momento. Assim a autocrítica da Igreja pode e deve fluir das Escrituras e, portanto, da própria fé cristã
Infelizmente, no entanto, nem todos sabem fazer a autocrítica da Igreja. E aqui emergem três tipos falhos de autocrítica: a autocrítica não cristã, a autocrítica tradicionalista e a autocrítica ausente. Vamos começar pela primeira. Típica dos crentes mais progressistas, ela não flui da Bíblia, mas da cultura contemporânea. Carrega os mesmos termos, comparações, generalizações, pressupostos, cosmovisão e modus operandi das críticas que não cristãos fazem à Igreja. Os não-cristãos aqui são o exemplo. E é o exemplo deles que deve ditar como a Igreja deve agir e ser. Essa autocrítica não intenta fazer a Igreja voltar à Bíblia (como era a intenção de Ezequiel, Isaías e Tiago), mas sim se enquadrar nos padrões secularistas adotados pelo crítico. Ela é implacável com pecados e pecadores “religiosos” e “conservadores”, mas absolutamente conivente com pecados e pecadores teologicamente progressistas e/ou anticristãos. É, no fim das contas, uma crítica mundana à Igreja, embora encapada de autocrítica.
A autocrítica tradicionalista à Igreja não é menos perniciosa. Ela geralmente também não flui da Bíblia, mas de tradições que não tem respaldo bíblico e de interpretações descontextualizadas. Mesmo quando é bíblica, focaliza a minúcia, o secundário, ao mesmo tempo em que deixa de lado os grandes problemas que deveriam ser criticados em primeiro lugar. Para o crente tradicionalista o importante é manter um exterior bonito, um padrão ascético de usos e costumes, uma acalorada discussão sobre minúcias e uma utilização corriqueira do método texto-prova. Isso vale mais do que repreender a hipocrisia, a falta de amor, a tradição sendo usada acima da Bíblia, o legalismo, a falta de estudo bíblico aprofundado, a falta de sermão sólido da Igreja, etc.
Finalmente, há a autocrítica ausente. É aquela típica dos que creem que nenhuma crítica precisa ser feita jamais. Devemos apenas “pregar o evangelho”. Há desses crentes no lado progressista, no lado tradicionalista e fora desses extremos também. É o pessoal do “não vale a pena discutir”. A omissão destes é responsável pelo mal na Igreja se proliferar. Afinal, tudo o que a Igreja não discute, será discutido pelo mundo. Só que, claro, com os pressupostos do mundo. E assim, a visão do mundo prevalecerá sobre aquele tema, tanto fora quanto dentro da Igreja. Isso vale, sobretudo, para as críticas. Temos a oportunidade de fazer a autocrítica da Igreja com base em pressupostos e cosmovisão cristã. Se não fizermos isso, crentes estarão fazendo a autocrítica da Igreja com pressupostos e cosmovisão mundana.
E então? Qual autocrítica da Igreja você, crente, tem feito? Nenhuma? A tradicionalista? A não cristã? Ou a crítica que flui da Bíblia e conduz à Bíblia? Que possamos ser bíblicos em nossas críticas à Igreja. Do contrário, elas só servirão para o mal.
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