Por Davi Caldas

Aproveitando a mesma estrutura básica de meu artigo anterior, sobre o capitalismo, inicio este artigo afirmando que pouca gente sabe definir, de fato, o que é conservadorismo. Para muitos, a palavra virou sinônimo de uma postura retrógrada, discriminadora, avessa às mudanças, defensora de elites e do status quo. Alguns ainda afirmam que o conservadorismo é uma ideologia (tal como o socialismo, o fascismo, o nazismo e outras). Outros creem que conservadorismo é a mesma coisa que direita política e que a posição conservadora é essencialmente política. Todas essas definições, contudo, não passam se associações simplistas e distorções, não fazendo jus ao que é, de fato, conservadorismo. E sem uma definição correta, não há como discutir, por exemplo, se o cristão pode ou não ser um conservador.

No artigo anterior, tracei o objetivo de definir o que é capitalismo e entender como um cristão deve se relacionar com o sistema. Concluímos que esse arranjo econômico composto por propriedade privada, sistema de trocas, dinheiro, industrialização e globalização não afronta princípios bíblicos e pode ser defendido por cristãos. Também chegamos à conclusão que a defesa desse sistema não obriga ninguém a ser de direita ou liberal extremo; ou a defender todo e qualquer tipo de capitalismo; ou a ser explorador, egoísta e consumista. Sendo o capitalismo um sistema neutro, cabe ao indivíduo escolher qual será seu comportamento moral e quais serão suas posições políticas e econômicas específicas.

O objetivo desse novo texto é fazer o mesmo em relação ao conservadorismo: defini-lo corretamente, entender seu conceito e analisar de que forma o cristão deve se relacionar com as ideias conservadoras.

Cinco verdades imutáveis

Tenho dito em outros textos que o conservadorismo não é uma ideologia, mas uma postura. Ideologia, no sentido crítico, é um projeto (terreno) amplo e fechado de novo mundo. Por esse projeto toda a realidade é explicada e moldada. O conservadorismo é, em contraponto, uma postura de conservação de alguns pilares sociais e verdades imutáveis, e de consequente prudência em relação às mudanças. Há pelo menos cinco verdades imutáveis que o conservadorismo pretende resguardar:

(1) O ser humano é imperfeito e inclinado à imperfeição. 

Para o conservador, isso ocorre tanto por razões naturais, quanto por razões sociais. O homem nasce com propensão ao erro e esta inclinação natural pode se tornar maior se o mesmo estiver em um meio social que cultiva mais vícios que virtudes, mais erros que acertos. Nossa espécie, portanto, é natural e socialmente corrompida.

Cada tipo de conservador terá uma explicação distinta para isso. Os religiosos crerão que o ser humano foi criado bom por Deus, mas ele escolheu pecar. O pecado original contaminou toda a espécie com uma inclinação natural à imperfeição, tornando o mundo mal e injusto. É a teologia da queda, fundamental para as tradições judaica, cristã e outras.

Para os não religiosos, a evolução provê explicação. Também somos animais. Estamos sujeitos à instintos que nem sempre são morais. O fato de sermos racionais não muda isso. Ao contrário, torna esses instintos mais perigosos, pois com a razão podemos maquinar males maiores e não apenas para sobrevivência, mas para mero prazer próprio em detrimento de outros. E o hábito consolida o mal caráter.

A explicação dos instintos não é exclusivamente evolucionista e não religiosa. Religiosos e criacionistas também creem que possuímos instintos (como os animais) e que a razão os torna mais perigosos. A diferença é que religiosos sustentam que os instintos e a razão se tornaram inclinados à imoralidade por conta do pecado original. Nem sempre fora assim.

Independente da explicação adotada, o conservador entenderá que a imperfeição humana é um fato do mundo; visível, palpável, concreto. E não há como mudar isso. Esse é o mundo como ele é.

(2) Existe uma ordem moral objetiva.

 Apesar do homem ser imperfeito e inclinado à imperfeição, há certo e errado, justo e injusto, bem e mal. E isso é óbvio. Não seria possível classificar o homem como imperfeito se não existisse uma noção de perfeição, um padrão do que deveríamos ser.

 Essa ordem moral pode ser conhecida natural e socialmente pelo ser humano e pode ser seguida, embora não com perfeição absoluta. Reconhece-se, portanto, que o homem pode ser bom num sentido limitado, relativo. No campo individual, algumas pessoas podem alcançar um alto padrão moral (embora não impecável), mas no campo coletivo, a humanidade sempre transitará entre um padrão moral médio e baixo; não será totalmente má, porém muito distante de ser boa.

Os conservadores religiosos levam uma grande vantagem nesse segundo ponto de conservação, pois possuem uma base coerente para acreditarem numa moral objetiva. Eles creem que a moral é parte da natureza de Deus. Como Deus transcende todas as coisas, isso implica que a moral transcende todas as coisas (tempo, espaço, matéria, cultura, biologia, gostos, hábitos, opiniões etc.), sendo assim objetiva. A moralidade é um dado da realidade, tal como a lógica e a matemática, eternas porque partes da natureza do próprio Deus.

O conservador ateu ou agnóstico não tem onde basear sua noção de moralidade objetiva. Uma vez que ele crê apenas no mundo natural, a moral não o transcende, podendo apenas baseada em coisas efêmeras. E uma vez que não houve qualquer objetivo em nosso aparecimento, mas somos resultados de causas aleatórias, não inteligentes e não morais, então não há qualquer padrão geral verdadeiro. Há apenas convenções humanas, conveniências, não um real padrão moral. Um dia vamos morrer e para sempre. Nem faz diferença o que faremos ou deixaremos de fazer.

O conservador descrente, portanto, será conservador apenas de modo prático, pragmático. Ele se agarra à moral, que julga existir, mas não pode achar fundamento real para ela. Na prática, ele não vai diferir muito do conservador religioso. Mas ele não terá fundamento. E isso traz um forte risco de niilismo e consequente perda da visão conservadora de mundo (o que é mais coerente, na teoria, com a descrença em Deus).

(3) Existem verdades absolutas. 

Tal como há moral absoluta, há verdade absoluta. O conservadorismo não aceitará os pressupostos relativistas de que cada um tem a sua verdade (sendo todas igualmente válidas) ou que a verdade não pode ser conhecida. Essas suposições são ilógicas. A primeira ignora que proposições contraditórias não podem ser todas válidas. A segunda ignora que a própria defesa de que a verdade não pode ser conhecida pressupõe que tal idéia é verdadeira, o que acaba por refutar a ela mesma. Ademais não há quem, na prática, consiga viver como se não houvesse verdades objetivas, absolutas. Um pouco de realidade é suficiente para deixar de lado essa abstração.

Mais uma vez o fundamento do conservador religioso é mais forte que o do conservador incrédulo. O último se baseia em sua sensação de que é um ser racional e que o mundo a volta se rege pelo que ele entende ser a lógica. Mas não há onde ele possa basear sua sensação. Uma vez que ele é fruto do acaso e seus pensamentos são meros movimentos atômicos que surgiram de causas não naturais, não há fundamento para ele crer na própria razão ou fazer qualquer inferência. Ele o faz, novamente, por pragmatismo, costume e talvez um tanto de ilusão. É bem provável que boa parte dos incrédulos não percebam como não possuem base para crerem na moral objetiva e na razão.

Já o conservador religioso fundamenta a sua razão e o mundo lógico ao redor numa mente maior, uma causa inteligente que projetou tudo. Deus é um fundamento sólido para que se creia na moral, na razão e no projeto intencional do universo, da terra e do homem. Sua existência dá sentido lógico a tudo e valor real ao ser humano. Assim, razão, lógica, sentido, valor existencial e, por conseguinte, verdade existem no mundo, tendo sua origem em Deus.

(4) As crenças metafísicas, as religiões e a tradição judaico-cristã são pilares sociais.

O conservadorismo percebe dois fatos do nosso mundo: (a) o ser humano é essencialmente religioso, tanto por natureza, quanto por cultura; (b) a religião, sobretudo a judaica e a cristã, legaram ao mundo uma base sólida para se deduzir a existência de razão, mundo lógico, moral objetiva,  sentido  existencial e verdade.

Sobre o primeiro fato, ressalta-se que nenhuma civilização no mundo se ergueu sem uma crença religiosa. A maioria das pessoas segue uma religião. E quase todos os indivíduos sentem falta de elementos presentes nas religiões. Como analiso mais detalhadamente em outro artigo, o ser humano é um homo religionis ou spiritualis.

Sobre o segundo fato, é pela tradição judaico-cristã que se concebe a ideia de que o ser humano foi criado por Deus à sua imagem e semelhança, possuindo dignidade. É o Deus judaico-cristão que dirá não fazer acepção de pessoas. É o Cristo da religião cristã que morrerá por todos, levando os primeiros cristãos a afirmarem que todos são iguais em Cristo Jesus. A tradição judaico-cristã legará a ética dos dez mandamentos, o amor que sofre martírio, os profetas que chamam a atenção para o auxílio dos pobres, órfãos, viúvas e estrangeiros. Pela tradição judaica a escravidão se ameniza grandemente  em Israel por séculos no mundo antigo (tornando-se praticamente um emprego formal) até ser desprezada pelos apóstolos de Cristo e rechaçada pelos cristãos dos primeiros séculos, vindo a ser abolida na Europa cristã.

Religioso ou não, o conservador percebe a importância do judaísmo, do cristianismo e da Bíblia para a construção de valores fundamentais de grande parte dos países do mundo hoje. Assim, observados esses dois fatos, ele respeita as religiões e reconhece a importância delas para o ser humano e para a construção da sociedade. É um pilar social.

5) A família é um pilar social.

A família é vista como o núcleo original da sociedade, tanto no sentido biológico, quanto no sentido moral. Biologicamente, sem o casamento e os filhos gerados, não há sociedade. Moralmente, a família é a responsável primária por instruir os novos indivíduos que colocou no mundo. Essa responsabilidade se dá pelo fato de a família ser o primeiro núcleo de pessoas em torno de cada recém nascido. Pela ordem natural e moral das coisas, ela deve dar afeto, educação moral, limites, deveres e outras instruções para a vida na medida em que o indivíduo cresce.

Há um afeto natural entre o casal e sua criança gerada, entre os irmãos de sangue, entre os avós e netos, sobrinhos e tios. Ao menos é o que ocorre numa família moralmente saudável. Por essa razão e também por terem os pais colocado a criança no mundo, possuem eles, com ajuda da família, o direito e o dever de cuidarem da mesma.

Assim, a defesa da preservação do núcleo familiar, de sua boa estrutura moral e de sua autonomia (o que protege sua existência) é primordial para o bom andamento da sociedade, conforme a visão conservadora.

Implicações das verdades imutáveis

As referidas verdades básicas defendidas pelo conservadorismo geram implicações ou deduções lógicas, as quais também compõem o pensamento conservador. A primeira e mais importante talvez seja a postura de prudência em relação às mudanças. Isso não significa ser contra elas, mas sim questionar sempre: essas mudanças destroem ou enfraquecem alguma verdade imutável, algum pilar social? O modo como elas serão aplicadas ou estão sendo projetadas pode vir a solapar tais verdades e pilares? Se a mudança em questão é boa, mas o meio é ruim, pode-se pensar num meio mais sensato? Quais benefícios e malefícios tal mudança pode trazer? Ela é realmente possível é viável? Mudar de maneira mais gradual seria mais prudente? Em que a experiência de nossos antepassados pode nos ajudar na análise dessas questões?

Uma segunda implicação e que está intimamente ligada à prudência é o respeito à experiência. O conservadorismo entende que olhar para as lições do passado é um modo seguro de se tomar decisões sobre o presente e o futuro. O passado muito ensina sobre o que dá certo e o que dá errado. Se não há nele uma resposta direta para alguma questão específica, ao menos sempre há alguns princípios que podem nos orientar.

Da mesma forma, as pessoas mais vividas muito podem ensinar por sua experiência. Por essa razão, o conservadorismo não crê que a mera agitação dos jovens, seja um guia seguro para se tornar decisões. A sabedoria dos anciãos é importante para equilibrar a falta de experiência, responsabilidade e senso que acompanha a maioria dos jovens, em maior ou menor grau. As ideias dos jovens valem mais quando fincadas em princípios sólidos e milenares. A mudança não pressupõe necessariamente a destruição de tudo, mas na maioria das vezes só reparos e reformas.

Uma terceira implicação lógica das verdades imutáveis sustentadas pelo conservadorismo foi consolidada pela experiência: não se deve dar poder ilimitado a um só homem (ou a um grupo deles). Como diz a máxima de Montesquieu: “Todo o homem com poder é levado a abusar dele; vai até onde encontrar limites”. O barão de Montesquieu sequer cria que o homem fosse imperfeito por natureza, mas enxergava o que é inegável: poder ilimitado corrompe. Não por acaso ele formulou a ideia de poder tripartido e governantes limitados por pesos e contrapesos.

Neste ponto, curiosamente, muitos conservadores podem ter sido vistos como liberais e progressistas em algumas épocas da história, ao se oporem, por exemplo, à monarquia absolutista. Mas é preciso notar que o conservador é aquele que tem zelo pelo que é eterno, pelo que é pilar social, pelo que é verdade imutável, não pela tradição e pela antiguidade em si mesmas. É este pensamento que dava ao britânico Edmund Burke, pai do conservadorismo moderno, a segurança de rechaçar o absolutismo, mas discordar das ideias radicais de destruição total e violenta da monarquia; de apoiar mudanças, mas sempre sob a égide da prudência. Ademais, quando se trata de defesa do que é eterno, mesmo que um conservador esteja contra uma tradição milenar, o princípio que ele defende é anterior, pois é eterno.

 Uma quarta implicação das verdades imutáveis é a descrença na capacidade humana de criar um paraíso na terra ou algo próximo a isso. Uma vez que o homem é natural e socialmente imperfeito, qualquer projeto amplos de reformulação da sociedade, que tenha como pressuposto ou como objetivo, uma natureza do homem diferente do que ela é e tem sido está fadada ao fracasso. Mas não apenas ao fracasso. Tais projetos sempre criarão um arranjo social ainda pior, pois dependem de governos poderosos e homens radicais para serem postos em prática. Quanto maior, mais detalhado e mais pretensioso é um projeto desse, mais poder alguns poucos homens do governo deverão ter sobre a sociedade. Eles tornam-se os redentores sociais, passando a ter um poder quase divino. O próprio Estado se diviniza. E isso levará, sem dúvida, ao despotismo, à violência, à perseguição, já que os homens no poder são imperfeitos também.

Além dessas implicações mais gerais, há outras mais específicas. Pela crença no valor real do ser humano e na moral objetiva, por exemplo, o conservador quase sempre será contra o aborto, entendendo que, se há uma vida no útero da mulher, ela tem valor real e deve ser defendida. As mesmas bases implicam a noção de legítima defesa. Uma vez que a vida é importante, temos o direito de defender a nossa e a de pessoas à volta quando as mesmas estão sob risco.

 A crença de que cada ser humano normal possui as faculdades da razão e da moral, levam à ideia de individualidade. Cada pessoa é distinta da outra, possuindo consciência, pensamentos e responsabilidade própria. Isso implica capacidade e dever de responder por seus próprios atos, de onde o conservadorismo conclui que as culpas por maus atos não são diluídas na sociedade e que os julgamentos civis não devem minimizar crimes por supostas más influências que criminoso possuiu.

 A existência de individualidade, como aceita o conservadorismo, implica ainda a ideia de direito de propriedade sobre os próprios pensamentos e corpo. E tal direito se estende natural e logicamente ao fruto do trabalho de cada pessoa: vestes, abrigo, alimento, ferramentas, objetos de lazer, etc. Desta forma, deduz-se a legitimidade da existência de propriedades privadas. Por esta razão, e por também enxergar no sistema de trocas algo natural e eficaz, o conservadorismo aceitará o capitalismo como um sistema viável e potencialmente bom (dentro dos limites humanos), embora cada conservador vá diferir quanto ao melhor arranjo de capitalismo. Alguns serão mais liberais, defendendo um Estado pouco interventor e com nenhuma ou bem poucas empresas estatais. Outros serão mais estatistas, defendendo um governo mais interventor e algumas ou muitas estatais.

Outra implicação mais específica do conservadorismo é a visão da beleza como sendo algo, em grande parte, objetivo. O conservador entenderá que, embora existam gostos distintos, a beleza não é totalmente uma questão de opinião. Há coisas belas e feias para além das divergências de gosto. Isso molda a visão sobre arte e cultura. Nem tudo, para o conservador, será realmente arte. Para o religioso, novamente, isso faz mais sentido, pois a beleza, tal como a razão e a moral encontram sua fonte em Deus.

Conservadorismo e política

Tendo feito essa análise, é preciso ressaltar que não nos referimos ao conservadorismo como mera posição política, mas como uma atitude diante da realidade. O conservador não precisa apoiar um partido político, candidato ou governante; ele pode ser apolítico e sequer votar; pode ser contra determinados governantes conservadores; pode defender modelos econômicos mais liberais ou mais interventores; pode ser favorável a um sistema penal impiedoso ou a algo mais equilibrado. Economicamente, pode ser de centro, transitando fácil entre centro-direita e centro-esquerda (como foi o saudoso Dr. Enéas Carneiro). Quiçá de uma esquerda moderada – um “old-whig”. Em suma, o conservadorismo não confina o conservador numa caixinha de opiniões fechadas.

Resumir conservadorismo à política é perder de vista seu aspecto primordial: o moral. O conservadorismo não surge da política e se expande para a moral (movimento comum nas ideologias), mas surge da moral e se expande para a política, a economia e a cultura na medida em que as questões morais resvalam nesses campos (ou que esses campos resvalem no campo moral). A defesa da vida do nascituro ou da liberdade religiosa, por exemplo, não são questões prioritariamente políticas, mas morais.

Exatamente por questões morais também, o conservadorismo é frontalmente contrário às ideologias em geral, tais como o positivismo, o socialismo marxista, o fascismo, o nazismo e outras. Todas elas, cada qual a sua maneira, oferecem riscos às religiões tradicionais, à tradição judaico-cristã, à moralidade, à autonomia e estrutura da família, à limitação dos poderes e à propriedade privada.

Essa clara distinção entre moral e mera política é a razão pela qual dentro da direita há muita oposição entre aqueles que são somente ou primordialmente liberais em economia (sendo progressistas na moral/cultura), e aqueles que são apenas ou primordialmente conservadores. Os primeiros sustentam o livre mercado como prioridade. Os últimos já tem a conservação dos valores e verdades imutáveis como mais importantes. O livre mercado é uma consequência apenas.

Ora, mas se por um lado o conservadorismo não é uma ideologia e não se inicia como posição política, por outro lado, há sempre um grande risco entre os conservadores de ideologizarem seu conservadorismo. Na verdade, essa é uma tentação humana. É fácil adotarmos um redentor para o mundo, seja um homem, governo ou sistema. E isso pode acontecer até com quem não tem, inicialmente, crença em nenhuma ideologia. Alguém que defenda o capitalismo pode cair no erro de vê-lo como um sistema capaz de fazer um paraíso na terra (ou algo bem próximo). Pronto. O capitalismo foi ideologizado pelo indivíduo. E há diversos libertários e anarcocapitalistas fazendo isso. Da mesma forma, um conservador pode passar a ver o conservadorismo como uma panaceia. Talvez, sem perceber, comece a nutrir esperança de um mundo maravilhoso após a destruição do progressismo. E essa passa a ser a sua grande batalha. Há também muitos conservadores caindo neste buraco.

A grande verdade é que por mais que o conservadorismo possa legar a defesa de alguns bons princípios, ele não tem nenhum poder de redenção do ser humano e da terra. Não é a anulação de todas as ideias progressistas (em matéria de moral e cultura) que resolverá o problema do pecado, a maldade intrínseca do ser humano, as nossas limitações. E isso é o que o próprio conservadorismo diz.

No fim das contas, ser ou não ser conservador não muda em nada o nosso estado de miséria. Somos seres caídos, sem capacidade de transformar o mundo e fadados à morte. Se o conservadorismo é tudo o que temos para nos dar esperança e segurança, somos tão miseráveis quanto quaisquer outros. Assim, só há algum sentido em conservar esses princípios se há algo além deles, além de nós, além de tudo, com capacidade real de nos remir. Para quem crê em Jesus Cristo, Ele é a redenção. A única redenção.

 

Conservadorismo e cristianismo

Diante dessa breve explanação, torna-se incontestável que o conservadorismo (isto é, a postura de conservar pilares imutáveis como a família, a religião, a existência de uma moral objetiva, o reconhecimento da imperfeição humana, etc.) possui compatibilidade com a religião cristã. Enquanto o mesmo for encarado não como uma ideologia, um projeto de mundo, uma filosofia redentora, mas como postura moral e sempre sujeita à cosmovisão cristã, não há mal em ser conservador. Na verdade, o cristianismo implica esse tipo de conservadorismo. As posições políticas que daí derivam, desde que também estejam vinculados aos princípios cristãos, não importam para Deus.

Para o conservador cristão, todos os princípios elencados devem ser defendidos não por alguma motivação política, muito menos terrena, mas por uma motivação amorosa: o amor ao próximo e, acima de tudo, o amor a Deus devem ser a base. A visão do cristão, sem dúvida, é mais ampla: toda a realidade aponta para Deus. E é a Ele que devemos recorrer na busca por sentido, salvação, santificação e redenção. Assim sendo, que o conservadorismo cristão seja a postura de conservar a vontade de Deus, descrita em Sua Palavra – vontade boa, perfeita e agradável (Rm 12:2).

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