Por Davi Boechat
Há dois anos, o sentido semântico da expressão Lava Jato foi reprogramado no imaginário Brasileiro. Deixou de indicar o serviço de limpeza automotiva para se tornar símbolo de combate à corrupção. Entre os figurões da política nacional já condenados nas investigações da força tarefa está Sério Cabral (PMDB), ex-governador do Rio de Janeiro, acompanhado de sua esposa, Adriana Ancelmo.
Cabral – que foi condenado a 45 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa – ostenta a maior pena já decretada entre condenados pela operação. Adriana, cumpre pena de 18 anos pelos mesmos crimes. Da cadeia, longe da família, Cabral assiste passivo a dilapidação do patrimônio construído com desvio de dinheiro público, enquanto a esposa cumpre a pena em prisão domiciliar.
Outro governante, há três mil anos, deu alertas taxativos a respeito do ganho fácil, fraude, suborno e corrupção. Seu nome? Salomão. O repertório de seus escritos registrados na Bíblia é eclético. Nos três livros em que ele é apontado como autor [Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos], o Sábio passeia por temas de relevância atemporal, vários deles relacionáveis ao status atual do poder político do Brasil.
Tivesse considerado os apelos de Salomão, o casal Cabral não teria protagonizado o escândalo, afinal, lembrariam que “os bens que facilmente se ganham, esses diminuem” (Provérbios 13:11a).
A perda da liberdade, acompanhada do confisco de propriedades – com destaque para a imensa e luxuosa casa de praia da família, de 460 metros quadrados, situada em um condomínio fechado de Mangaratiba, município que fica a 118 km da capital e integra a exuberante Costa Verde, balneário onde estão algumas das praias mais famosas do Brasil – faz lembrar outra lição deixada pelo sábio Salomão há três mil anos: “O que é ávido por lucro desonesto transtorna sua casa, mas o que odeia o suborno esse viverá” (15:27).
Trazidos à luz, os crimes dos Cabral os fizeram trocar as obras de arte que os circundavam por paredes monocromáticas de celas; as piscinas e academias privativas pelos banhos de sol com hora contada; as viagens internacionais pelo breve translado a bordo de viaturas da Polícia Federal entre Bangu, bairro na Zona Oeste do Rio onde fica a penitenciária, para a sede fluminense da Polícia Federal, onde costumam prestar depoimentos. Sobre isso, Salomão diria: “Suave é ao homem o pão ganho por fraude, mas, depois, a sua boca se encherá de pedrinhas de areia.” (20:17)
No noticiário, seus nomes foram transferidos das páginas de política para as de polícia, onde são citados frequentemente nos desdobramentos da Operação Lava Jato. Os danos à imagem de ambos são irreversíveis. Nesse sentido, disse o sábio: “Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor que a prata e ouro” (22:1).
Adriana, que cumpria pena em regime fechado, pleiteou prisão domiciliar alegando dar assistência aos filhos pequenos. Cumprindo as exigências, o benefício foi concedido, sob indignação popular, pelo STF. No entanto, se caminhasse corretamente, o transtorno seria dispensável. Disse o Sábio, “O justo anda na sua integridade; felizes lhe são os filhos depois dele” (20:7). E completou: “Na casa do justo há grande tesouro, mas nas renda dos perversos há perturbação” (15:6).
A famosa divisa do evangelista norte-americano Billy Graham torna-se, portanto, irrefutável: “A Bíblia é mais atual que o jornal de amanhã”.
Definitivamente, “melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o perverso, nos seus maus caminhos, ainda que seja rico.” (28:6) Também é “melhor é o pouco, havendo justiça, do que grandes rendimentos com injustiça” (16:8). Certamente, “melhor é o pouco, havendo temor do Senhor, do que grande tesouro onde há inquietação” (15:16).
Se aqui você não tem esperanças de, com honestidade, conquistar uma casa luxuosa, lembre-se do clássico hino “Mansão Sobre o Monte” (número 501 do Hinário Adventista). Um dia você terá “uma casa, no alto do monte com flores lindas por todo o jardim”. Lá haverá “aves cantando nas copas frondosas, rejubilando, na vida sem fim.” Por fim, “melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o perverso, nos seus maus caminhos, ainda que seja rico.” (28:6)
outubro 16, 2017 at 3:44 pm
A ética e a moral nada parece significar para os que detém o poder. A facilidade que encontram as autoridades (maioria) para usar a máquina a seu bel-prazer e enriquecerem pela corrupção entristece aos que almejam e vislumbram um futuro melhor. A confiança destes em desviar dinheiro público está baseada na impunidade, pois na imaginação deles a punição e prisão por crimes somente cabe aos famosos “puta, preto e pobre”. E, infelizmente, o nosso judiciário desde a primeira instância até a mais alta corte (STF) se acovardam diante de tal realidade e, aplicam o Direito desvirtuando seus princípios hermenêuticos, deixando impune os verdadeiros assaltantes dos cofres públicos. Além disso. o juiz (e também o promotor) brasileiro na atualidade, parece mais um político demagogo em busca de holofotes (mídia) para aparecer no Jornal Nacional. Um teste: quantos juízes e promotores da Lava Jato estão de olho nas eleições de 2018? Não passa de um círculo vicioso, ou seja, os que defendem a lei e a ordem hoje serão os corruptos de amanhã… Triste Brasil!
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outubro 23, 2017 at 2:15 am
“aplicam o Direito desvirtuando seus princípios hermenêuticos”. Você sintetizou bem o judiciário do país nessa frase.
Boechat
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outubro 18, 2017 at 1:32 pm
Excelente texto.
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outubro 23, 2017 at 2:14 am
Obrigado, Janine!
Boechat
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outubro 19, 2017 at 12:12 am
Interelação muito boa.
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outubro 23, 2017 at 2:13 am
Obrigado, Fal!
Boechat
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