Por Davi Caldas
Hoje é observado em diversas igrejas adventistas da América Latina o chamado “Dia de ênfase contra o abuso e a violência”. Esse dia ocorre uma vez por ano, sempre ao quarto sábado do mês de Agosto, e é uma iniciativa do “Quebrando o Silêncio”, um projeto da Igreja Adventista focado na prevenção e assistência contra abusos e violência doméstica. O projeto, criado em 2002, atende a oito países e consiste de palestras, vídeos, revistas, cartazes, banners, adesivos, outdoors, etc. sobre a temática, desenvolvidos durante todo o ano. As campanhas do Quebrando o Silêncio incluem a defesa de vítimas de agressão física e moral que são mais vulneráveis, como mulheres, crianças e idosos.
Quebrando o Silêncio é um dos exemplos de atuação social da Igreja Adventista do Sétimo Dia em favor dos que precisam e dentro dos princípios bíblicos que orientam a sua mensagem e missão no mundo. Tal como esse projeto, a IASD também mantém outras iniciativas que cumprem papel social importante, como a Ação Solidária Adventista (ASA) e a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA).
A IASD não faz nada de novo nesse sentido. A responsabilidade de ajudar o próximo, sobretudo os que estão em situação mais desfavorável e sendo oprimidos faz parte do pensamento judaico-cristão há milênios. É bíblico. É ordenança tanto no Antigo como no Novo Testamento. E é por isso que ao longo dos séculos o cristianismo sempre gerou obras de assistência e justiça sociais pelas mãos de cristãos verdadeiros e amorosos. A criação de hospitais, orfanatos e escolas, a luta contra a escravidão e a defesa de direitos humanos inalienáveis são heranças do verdadeiro evangelho e seus seguidores fieis. A escritora adventista Ellen G. White, seguindo esses princípios bíblicos, fez questão de enfatizar o tema para a Igreja durante todo o seu ministério, o que pode ser visto no livro “Beneficência Social”.
O que nós, da equipe Reação Adventista, gostaríamos de enfatizar diante desses fatos é que precisamos urgentemente desfazer alguns mitos e distorções sobre assistência e justiça sociais. Em primeiro lugar, assistência e justiça sociais não são doutrinas estranhas ao evangelho e à ortodoxia cristã, mas sim um dos conteúdos basilares. Não é preciso modificar o evangelho, alterar, adicionar algo ou distorcer para que se pratique ajuda aos pobres e oprimidos. A prática dessas ações é o que se espera e sempre se esperou de cristãos verdadeiros, pois é o que a Bíblia ordena. Assim, para fazer a diferença para os mais desfavorecidos, basta viver genuinamente a mensagem judaico-cristã.
Em segundo lugar, assistência e justiça sociais não são originárias de movimentos hoje secularistas. Foi a moral judaico-cristã que ergueu uma sociedade ocidental civilizada e mais sensível moralmente. Esse ambiente proporcionado pelo cristianismo possibilitou à sociedade perceber, denunciar e lutar contra determinadas injustiças. Também tornou possível o julgamento moral de cristãos que não seguiam os princípios do evangelho no que tange o amor ao próximo. O desenvolvimento desses nobres sentimentos coletivos não seria possível em uma sociedade pagã e politeísta como as do mundo antigo.
Ademais, grandes movimentos em defesa de direitos humanos igualitários, opositores de abusos contra a mulher e antiescravagistas tiveram seu início com cristãos devotos que entendiam tais princípios como provenientes da Bíblia. Da mesma maneira, desde o princípio do cristianismo, muitos cristãos devotos se dedicaram inteiramente ao auxílio de pessoas pobres.
As bandeiras de assistência e justiça sociais que hoje são alardeadas por movimentos e ideologias seculares como suas (marxismo e feminismo, por exemplo), na verdade, não passam de bandeiras judaico-cristãs presentes na Bíblia e defendidas por milhões de cristãos ao longo dos séculos. Apesar de muitos cristãos da história terem vivido de maneira torpe, envergonhando com suas atitudes o evangelho de Cristo, isso não anula a importância do evangelho e dos que escolheram vivê-lo. E isso precisa ser enfatizado.
Como temos dito em outros textos, ideologias e movimentos seculares de pretensão redentora são cópias distorcidas do cristianismo. São cristianismos imorais e sem Cristo, que preservam algumas virtudes cristãs misturadas a erros morais, negação da Palavra de Deus e insubmissão ao Senhor. São religiões políticas, como explicado em um artigo nosso sobre o tema. Certos da originalidade e superioridade do pensamento judaico-cristão e o evangelho de Cristo, não podemos aceitar religiões políticas no lugar (ou juntamente com) o verdadeiro cristianismo.
Em terceiro lugar, quanto à assistência social financeira, ela não deve ser confundida jamais com assistência estatal. A responsabilidade de prestar assistência aos pobres e oprimidos é, primeiramente, individual (e, por tabela, da Igreja). E isso deve ser feito não por meio de coação estatal ou de qualquer tipo, mas por livre e espontânea vontade do indivíduo. A Igreja deve ser, do ponto de vista civil, uma associação livre, que ajuda e influencia positivamente a sociedade com recursos próprios. Cada cristão deve doar seu tempo, seu dinheiro e seus esforços para causas sociais motivado apenas por amor a Deus e ao próximo.
Defender a assistência social não deve ser entendida como a defesa de algum modelo de governo, ideologia ou partido. O cristianismo é maior que essas coisas e Cristo exige do verdadeiro cristão o engajamento direto nas causas sociais, não a delegação de suas tarefas ao governo.
Voltamos ao Quebrando o Silêncio para declarar o nosso apoio a essa iniciativa. Como embaixadores de Cristo devemos fazer todo o possível para frear a violência doméstica, seja contra mulheres, crianças, idosos ou homens. Que possamos participar do projeto e deixar claro ao mundo que é o cristianismo o verdadeiro promotor dos direitos humanos e não ideologias preocupadas com agendas políticas e sem compromisso com Deus.
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