Por Arthur Rodrigues
Durante o último trimestre da Escola Sabatina estudamos as preciosas lições de Pedro, servo fiel que esteve sempre ao lado de Cristo no seu ministério e atendeu o chamado do Mestre para apascentar suas ovelhas.
Os destinatários das cartas de Pedro eram igrejas que enfrentavam os desafios e dificuldades iniciais do cristianismo, desafios que não foram superados com o passar do tempo, desafios que fazem dos conselhos e advertências de Pedro palavras atuais destinadas a igreja na nossa geração.
Dentre muitos assuntos, as cartas de Pedro abordam alguns pontos nevrálgicos no que tange à pregação do evangelho em nossos dias, tais como: a necessidade de amor ao próximo, a aparição de falsos mestres e a temática do respeito às autoridades.
O primeiro parece ser o grande desafio do cristianismo. Que tarefa árdua é a de despender amor pelo próximo! Envolvidos na condição pecaminosa fica cada vez mais difícil amar o ser humano, mas a chave para cumprir essa difícil missão está no nosso compromisso com Cristo.
“Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados ” (1 Pedro 4:8).
A presença de falsos mestres no meio do povo de Deus também é um problema contemporâneo. É necessário que estejamos atentos e vigilantes no estudo da Palavra. Precisamos lembrar que as perspicácias do inimigo enganariam se possível os eleitos.
O respeito à autoridade também encontra prioridade na pauta das cartas de Pedro, respeito que não pode ser confundido com passividade. A submissão às autoridades não significa resignação por parte do cristão. Sabemos que o ativismo político-partidário não é a missão da igreja, mas a passividade diante da injustiça também não.
O profeta Jeremias e o salmista dizem respectivamente que “maldito o homem que confia no homem” e “não confieis em príncipes”, ou seja, a confiança do cristão deve ser depositada exclusivamente em Deus. Nenhum governo na terra merece confiança e respeito sem reservas.
O respeito que Pedro fala nas suas cartas é semelhante ao falado por Paulo na sua carta aos Efésios e ele não advém da relação de poder, de governante e governado, de senhor e escravo, de marido e mulher, mas nasce do compromisso com Cristo, o dever de submissão decorre do amor a Cristo e ao próximo.
“Embora não ignore a estrutura social de sua época, Paulo defende a ideia de que os relacionamentos vigentes sejam inundados com os valores do evangelho. Esposas, filhos e escravos devem demonstrar submissão e obediência apropriadas, motivados por seu compromisso com Cristo” (Comentário da Bíblia de Andrews, Efésios 5:22).
Adentrado mais nas questões políticas, Pedro nos adverte que a submissão às autoridades deve ocorrer quando o governo civil não entra em confronto com princípios bíblicos. Não devemos devotar submissão ao Estado em detrimento da palavra de Deus.
Devo observar aqui que a autoridade perde o respeito e o cristão não lhe deve submissão quando esta defende e promove bandeiras anticristãs. Nos nossos dias é comum que isso aconteça.
“Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29).
Governos de esquerda em sua grande e esmagadora maioria defendem em sua agenda a liberação de drogas, o assassinato de crianças através do aborto, o feminismo e, principalmente, o homossexualismo, que coloca-se como um tema irretocável, sem espaço ao contraditório, e que vai aos poucos corrompendo o imaginário dos jovens cristãos com a ideia de que é uma prática lícita e que não encontra repreensões bíblicas. Isso não ocorre só na esquerda, evidentemente. Não tenho procuração e não quero fazer a defesa de governos de direita. Damos ênfase à esquerda nesse blog (e nesse texto) por ser o lado do espectro que mais abertamente se coloca contra princípios cristãos (em função mesmo de suas raízes anticristãs). Mas isso não exclui a direta, que em certos aspectos faz uma defesa velada de posições antibíblicas também.
Por fim, gostaria de abordar a questão da participação política do cristão na sociedade. Você pode achar que nesse ponto estamos fugindo do que esse texto se propõe, mas a meu ver, o respeito à justa autoridade trazida por Pedro e a luta do cristão pela defesa da verdade estão diretamente ligados à participação política.
Não há maior ferramenta em nossas mãos para a pregação do evangelho do que o próprio evangelho, mas não podemos negar que a nossa boa influência nos assuntos da vida civil podem potencializar o nosso alcance a níveis não imagináveis.
Não estou aqui para defender o seu engajamento em partidos, ideologias ou correntes políticas, mas estou para dizer que se você tem no seu íntimo o desejo de influenciar positivamente a sua cidade, o seu estado ou seu país com os princípios cristãos verdadeiros, isto não lhe é proibido ou desencorajado pela Bíblia. O que não devemos fazer é assumir uma posição de defesa partidária, fazendo de partidos, e não de princípios morais/espirituais, as nossas causas de luta. Contudo, no nosso contexto brasileiro ainda não é possível tomar assento em “conselhos legislativos” sem a filiação partidária, por exemplo. A entrada em um partido não precisa, entretanto, ser (e estar acompanhada) de uma defesa partidária.
Na Bíblia temos exemplos aos montes de pessoas que impactaram a sociedade em que viviam com os seus princípios, com seu caráter e conduta irretocável, como José, Moises e Daniel. Daniel, por exemplo, chegou a pregar para uma nação estrangeira e pagã com seu testemunho, tarefa inimaginável se ele não tivesse inteirado na política da Babilônia.
Nos nossos dias também encontramos o exemplo de cristãos adventistas que estão fazendo a diferença na política e chamando atenção do mundo para os nossos princípios, como o médico cirurgião Benjamin Carson. Valem lembrar que na disputa presidencial dos EUA, em 2016, Carson esteve no centro do debate, figurando por vezes entre os principais candidatos, o que chamou a atenção dos principais veículos da mídia americana para os princípios adventistas.
“Querido jovem, qual é o alvo e propósito de sua vida? Tem você a ambição de educar-se para poder ter nome e posição no mundo? Tem pensamentos que não ousa exprimir, de poder um dia alcançar as alturas da grandeza intelectual; de poder assentar-se em conselhos deliberativos e legislativos, cooperando na elaboração de leis para a nação? Nada há de errado nessas aspirações. Cada um de vocês pode estabelecer um alvo. Vocês não devem se contentar com realizações mesquinhas. Estabeleçam alvos elevados, e não poupem esforços para alcançá-lo” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 82.).
Finalmente, não devemos confundir a participação política do cristão com o posicionamento político institucional da igreja. Esta deve manter-se incólume às influências políticas. A missão exclusiva da igreja é salvar do pecado e para isso precisa estar afastada de qualquer posicionamento em espectros políticos.
É lícito ao cristão Adventista, portanto, participar da política, respeitando, claro, os nossos princípios. Filiação e participação política não significam (e não devem significar) crédito à instituições ou partidos, mas sim a confiança de que a atitude individual do cristão pode fazer diferença.
junho 27, 2017 at 1:02 pm
Infelizmente, precisarei discordar dos últimos parágrafos escritos pelo autor. EGW em nenhum momento defende nossa filiação a partidos políticos, muito pelo contrário, ela é veementemente contra a filiação partidária ou disputa política.
“Contudo, no nosso contexto brasileiro ainda não é possível tomar assento em “conselhos legislativos” sem a filiação partidária, por exemplo. A entrada em um partido não precisa, entretanto, ser (e estar acompanhada) de uma defesa partidária.”
Sim, é possível ao cristão fazer parte de conselhos legislativos sem fazer parte da disputa política partidária. Atualmente, aqui no Amazonas temos o caso de vários adventistas que assumiram posições importantes do governo (secretárias de estado e educação, por exemplo) por indicação. Esse seria um exemplo mais parecido com o de Daniel e está de acordo com o texto postado de EGW em Fundamentos da Educação Cristã.
Se por um lado há casos de cristãos adventistas eleitos que estejam sendo boas influências partidárias (ainda não vi muitos, confesso), há muitos mais que ou desistiram das carreiras políticas, ou se deixaram corromper pela corrupção sempre presente nesse meio. E isso a mídia faz questão de deixar muito claro.
Vale ressaltar que Ben Carson desistiu da disputa e se hoje faz parte do governo americano foi pro indicação.
Abraços fraternos.
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